Pescador é aquele sujeito que conhece a natureza, entende o mar, sabe olhar para a lua e ver a maré que vem, quando o dia é bom, traz alimento para a família e ainda garante o sustento da casa com o que consegue vender de peixes.
Meu avô, um nativo e excelente pescador, só saía de casa para pescar quando fazia o checklist. Confiante, saía acreditando que voltaria com o cesto cheio. Porém por vezes retornava sem nada e quando interrogado pela minha avó do porque a pescaria não havia rendido, sempre respondia: “quando a maré não ajuda…”
O futebol está longe de ser uma pescaria, mas de qualquer forma tem sua rotina e muito a ser observado para que o time possa fazer sua parte, estando assim os cestos sempre cheios – pontos na tabela. E a lista de verificação no futebol é muito mais extensa do que a de uma pescaria, envolve muito mais situações a serem analisadas, pois qualquer deslize pode ser fatal – dentro e fora de campo.
No jogo Avaí x Brusque, na quinta passada, o que se viu após mais uma derrota – três consecutivas – foi muita insatisfação e torcedores com gritos de ordem contra jogadores e diretoria. Naquele momento queriam crucificar o “Judas” – cada um tem o seu, pois alguém precisa pagar o pato. Entendo que fica uma sensação de revolta e de impotência, onde nos vemos envolvidos sem saber para onde correr. Porém neste momento me vem a lembrança do processo de eleição em novembro de 2013, onde os que hoje atiram carne às feras foram os mesmos que sequer moveram uma palha pela mudança – sócios que não foram votar.
O sonho de ter jogadores de peso – Cléber Santana, Marquinhos e Eduardo Costa – fez o torcedor acreditar que a mudança estava acontecendo, que teríamos uma equipe imbatível e que todos os nossos problemas acabariam como num passe de mágica (vem aquela musiquinha na cabeça: “Organizações Tabajara”). Porém os problemas do Avaí estavam além de uma simples mudança de gestão. A continuidade se fazia necessária, pois o acúmulo das dívidas ultrapassavam os R$ 40 milhões e somente um presidente que havia acompanhado a gestão anterior seria capaz de colocar a mão no fogo, fazendo-nos crer que a situação estava sob controle. Para isso não foi poupado esforço e nem dinheiro em uma campanha que beirou ao ridículo com suas regras.
As mudanças prometidas não vieram, a pluralidade dentro do Conselho Deliberativo também não. As parcerias e os patrocinadores ficaram esperando para ver até que ponto poderiam apostar no Leão. Os atrasos salariais e as ações trabalhistas começaram a pipocar de forma mais abrangente, mostrando que muito do que se havia especulado eram verdades escondidas até então, por trás dos tijolinhos da Ressacada. O funil foi ficando cada vez mais fino, e já não havia como esconder do torcedor as duras penas que o nosso clube estava passando.
Alguns querem nos fazer crer que a culpa disso tudo é do torcedor que não tem ido ao estádio ou mesmo não estar associado. Porém diante de tantos problemas até mesmo o torcedor mais fanático passou a deixar de acreditar que alguma coisa poderia melhorar e que para apostar seu rico dinheirinho teria que ter em troca ao menos o resultado dentro de campo. E quando falo em resultado não me refiro apenas em vencer o campeonato, pelo contrário, falo em jogar com raça e determinação, como vimos no clássico de domingo. Quem vai ao estádio de futebol espera pelo menos que seu time faça um grande espetáculo, independente de resultado.
O Avaí desde novembro partiu para a pescaria apostando apenas no resultado das eleições e que o fato de que venceu “de lavada” como se ouve por aí, o faria dar continuidade no mundo de Alice, aquele das maravilhas. Acreditou que o resultado era a resposta de que o torcedor daria munição –associando-se – para pagar as contas. Infelizmente a diretoria esqueceu-se do principal: “Em mar que camarão dorme a onda leva” e se não tiver planejamento não adianta vir com o discurso do meu avô pescador, de que o “mar não está para peixe” ou que a “maré não ajuda”. Isso é conversa de pescador e aqui estamos tratando de futebol.
1 comentários:
Seria maravilhoso se tivéssemos mais Blogueiros com esta consciência. È muito fácil para alguns acharem que através de um Blog tenham adquirido um poder que engrandece o seu Ego dizendo somente besteiras. Como sempre Carmem, suas colocações são apropriadas, você não se entrega ao acaso de favorecer ou prejudicar alguém Não poupa e não acusa sem causa justa. Pena que temos blogueiros vendidos, que basta ganhar um clássico, que viram heróis, assumem personagens de seus Egos. Continue Carmem assim, sua honestidade é necessária em nosso meio.
Beto
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