8 de novembro de 2015

Administrar o Avaí não é um hobby

Por Cláudio Vicente

Administrar o Avaí não é um hobby
Diante da manifestação da esposa do Presidente do Avaí sobre o atual momento vivido por ele frente ao desafio de administrar o clube, com indicações de renúncia, e considerando a repercussão do texto publicado, acredito sejam necessários alguns esclarecimentos acerca do seu conteúdo, sob o risco de que se reproduzam algumas informações que não representam a realidade:

1. Que ele foi alçado à Presidência por ironia do destino: quando na gestão anterior estava no cargo de Vice e acabou assumindo a Presidência, pode-se até dizer que foi por ironia do destino. No entanto, ao final daquele mandato candidatou-se novamente por meio de uma chapa ao conselho, numa eleição em que algumas imoralidades foram cometidas para vencer as eleições, como usar a estrutura do clube para buscar votos, usar o nome do programa de sócios como nome da chapa, aumentar de 100 para 200 o número mínimo de integrantes de cada chapa, e convocar as eleições para dia útil em horário comercial, para que a outra chapa concorrente, formada basicamente por jovens trabalhadores, tivesse dificuldade de votar. Se não desejavam tanto ser eleitos, bastava que tivessem conduzido o processo dentro da moralidade.

2. Que assumiu um clube falido, com débitos milionários: talvez a frase mais repetida pelo então candidato à Presidência foi de que “a dívida é administrável”. Portanto, cabe ao Presidente eleito colocar em prática seu plano, apenas como obrigação. Ademais, como já Presidente na ocasião das eleições, tinha total consciência da situação financeira do clube.

3. Que conseguiu parcelar dívidas e colocar a folha de pagamento do clube no azul: todos sabem que a folha de pagamento esteve (mas não está mais) no azul apenas porque o clube vendeu parte do seu terreno no âmbito da desapropriação para construção do acesso ao novo terminal do aeroporto, assunto amplamente veiculado na mídia. Se o terreno não fosse desapropriado, a situação da folha de pagamento não estaria melhor do que no início do mandato.

4. Que torcedores exigem contratações de peso e se esquecem de que há necessidade de dinheiro: não precisa entender muito de futebol para perceber que o clube está gastando mal, com contratações equivocadas. Um bom uso dos recursos que possui permitiria ter um time bem mais competitivo. Se gasta mal é porque o clube ainda se curva diante de empresários – aqueles que esta administração prometeu afastar do clube. A fórmula adotada é conhecida, e não funciona mais.

5. Que o Presidente viaja de madrugada atrás de patrocínio: o Presidente deslocou para a gerência comercial do clube um funcionário que não poderia mais contribuir, reconhecidamente sem competência para aquela função. E nem esta nomeação, nem o esforço extra estão surtindo efeito, pois o clube bateu seu recorde de permanência sem patrocínio máster. Este é só um exemplo que demonstra que não foram feitas as mudanças necessárias para uma boa gestão.

6. Que o Presidente nunca precisou assumir um clube de futebol para promoção pessoal: o próprio Presidente já declarou publicamente que seu papel seria político e que contrataria um administrador executivo para cuidar da gestão do clube. Deveria saber que no futebol é impossível um Presidente não se envolver diretamente na gestão, mesmo quando existe a figura do executivo. Sobre contratar o executivo, somente o salário de um dos jogadores dispensáveis seria suficiente para esta contratação.

7. Que não está cuidando da sua vida pessoal por dedicação excessiva ao clube: se estava tão atarefado, por que assumiu também a Presidência da Associação de Clubes de Santa Catarina? E a Vice Presidência da Liga Rio-Minas-Sul? Talvez a dedicação exclusiva ao Avaí, clube para o qual foi eleito Presidente, o permitiria fazer o que se propôs quando a ele foi confiado o cargo. A esposa do presidente não tinha a obrigação de conhecer os ônus, principalmente para a família, de se assumir um cargo de tamanha envergadura, mas o Presidente já tinha elementos suficientes para fazer esta avaliação.

Por fim, diante dos desdobramentos deste tema, espera-se que o Conselho Deliberativo do clube tome as providências necessárias para que o Avaí não seja o grande perdedor nesta história, resulte ou não na saída do Presidente, pois o golpe moral imposto a jogadores, comissão técnica e funcionários já aconteceu com este episódio. E que faça mudanças no estatuto, conforme prometido aos seus eleitores na ocasião das eleições, de modo a prover mais democracia, eficiência, transparência e governança ao clube, condição necessária para que o Avaí dê mais algum passo verdadeiro em direção à profissionalização em sua gestão.