2 de fevereiro de 2014

O placar maldito

Quando comecei a acompanhar futebol, achava bobagem o ditado que diz que “2 a 0 é placar perigoso”. Queria que meu time, se possível e se as regras permitissem, começasse as partidas sempre com 2 a 0 de vantagem. Mas, olha, vinha mudando de ideia desde bicicleta do Kadu, a Série A de 2009, quando deixamos de escapar o TÍTULO depois de permitir 823 empates por 2 a 2 depois de estarmos ganhado por 2 a 0, reforçou essa mudança de ideia e o jogo de ontem foi a gota d’água. Chega! Xô, 2 a 0! Se estiver ganhando por 1 a 0, ou arma o ferrolho lá atrás pra segurar o resultado ou deixa o adversário empatar e tenta fazer depois o 2 a 1. Dois a zero não, nunca, jamais! Some daqui, excomungado!
O 2 a 0 é um placar tão perigoso e ardiloso que ele nos faz desviar o foco para não discutirmos sua periculosidade. Gastamos tempo debatendo o porquê de Betinho – e não Marquinhos – ter batido o pênalti que faria o 3 a 0, questionamos por que Emerson Nunes tirou Tinga do time, indagamos o que Felipe Alves ainda faz comendo, bebendo e gastando copo plástico da Ressacada, reclamamos que nossos zagueiros são horríveis e ficaram os dois assistindo um centroavante ANCIÃO cabecear sozinho um cruzamento vindo da intermediária, criticamos Diego por seu bracinho de tiranossauro quando, no fim, a verdade, nada mais que a verdade é: 2 a 0 é um placar perigoso.
O 2 a 0 é um placar tão manhoso e sagaz que ele nos faz acreditar que nada pode dar errado. Ora, como poderíamos perder um jogo se vencíamos o jogo por 2 a 0 com dois gols de Betinho, um atacante que fez 1 gol em 20 jogos em 2011, 3 em 26 em 2012, 6 em 31 em 2013 e, em 2014, já está com 3 gols em três partidas? Só poderia ser um sinal de vitória, claro. Engano nosso. Como é sorrateiro esse 2 a 0!
Passaremos a semana, ou pelo menos até a partida de quarta, lembrando de lances como o pênalti que Marquinhos perdeu sem ter batido, a bola que Marquinhos entregou no meio e que resultou no terceiro gol deles ou a dupla de Marquinhos da zaga assistindo, sem pagar ingresso, a Schwenck cabecear no canto do goleiro Marquinhos, mal posicionado. Bobagem nossa. O lance capital ocorreu aos 38 minutos do primeiro tempo, quando Betinho fez o segundo gol. Estava definida naquele momento a nossa derrota.
E não me venham dizer que houve muitos jogos em que abrimos 2 a 0 e vencemos. São apenas exceções que confirmam a regra.
*jornalista e servidor do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), colaborador do site Memória Avaiana e sócio-fundador da Conselharia Azurra.

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