4 de fevereiro de 2014

“O pior regime, com exceção de todos os outros…”

Essa definição – ou algo aproximado a ela – é atribuída ao estadista Winston Churchill ao se referir à Democracia. Provavelmente serviu de resposta àqueles que apontaram, em algum momento histórico, todos os males decorrentes do fato de conferir à população – os destinatários do exercício do poder – a escolha de seus mandatários.
Essas mazelas, por evidente, existem em grande quantidade em um regime democrático. Inevitável que algo basicamente constituído por pessoas, com suas características próprias – humanas –, tenha como reflexos problemas e vantagens em razão deste fato. A avaliação da sua validade como sistema adequado a ser adotado deve ser realizada numa “balança” em que se meçam prós e contras.
A frase do estadista britânico ainda permanece como verdadeira. Não se verificou qualquer regime de poder que, nessa balança proposta, encontrasse uma proporção de vantagens superior às desvantagens maior que a Democracia. Isso não só pelo grau de legitimidade ao mandatário perante os administrados que oferece, mas também pela discussão que o processo eleitoral provoca, fazendo surgir pressões por melhores administrações.
Enquanto participei da Comissão que tinha a função de apresentar proposta de novo Estatuto para o Avaí pude notar que a maior divergência entre os membros se dava justamente quanto à expansão do modelo democrático do clube ao seu máximo, a ponto de permitir aos sócios que elejam, diretamente, o Presidente.
Alegou-se, além de outras coisas, que uma mudança deste porte representaria diferença não tão substancial à atual sistemática, dado que aos sócios já é atribuída a função de escolher o Conselho Deliberativo para que este escolha o Presidente que, invariavelmente, já se apresenta como integrante da chapa.
Entretanto, a eleição ocorrida em novembro último demonstrou que o simbolismo da participação e a possibilidade de uma candidatura com chapa aberta, sem candidatos a presidente, é possível. E foi a eleição de novembro que também deixou clara a vantagem da eleição direta.
O espírito de participação tomou os sócios que, depois de muito tempo, sentiram-se participantes do processo de gestão do clube, colocando na mesa (mesmo que virtual) inúmeros pontos de discussão que aparentemente se demonstravam fora de seus alcances.
A chapa vencedora e o Presidente eleito um mês depois também demonstraram, inequivocamente, absorver muitas das propostas apresentadas pela chapa opositora.
Boa parte de suas primeiras ações – aplaudidas em muitos pontos – se devem, além do mérito inafastável da sensibilidade administrativa dos eleitos, também à discussão que se promoveu durante o período eleitoral em que muitos assuntos vieram à tona como não se fazia em outros tempos.
Em uma dessas primeiras medidas merecedoras de aplausos, os presidentes do Conselho Deliberativo e do Clube receberam torcedores e blogueiros para um papo franco e aberto e deixaram “escapar” suas posições a respeito do tema: o Presidente do Conselho já se convenceu da importância das eleições diretas, mas o Presidente Nilton Macedo Machado ainda se mantém contrário à ideia.
Não tenho dúvidas de que este posicionamento é provisório. A história do Presidente Nilton é a de um magistrado, advogado e empresário atento às melhores práticas republicanas e democráticas.
Esse perfil, associado à sua percepção de que o processo de participação dos sócios no dia-a-dia do clube – resgatando-nos de um abismo entre a diretoria e o torcedor aberto nestes últimos anos – é inevitável e essencial, levará, não tenho dúvida, a uma proposta de Estatuto a ser apresentada à Assembleia Geral neste ano que já contenha as disposições necessárias à realização de eleições diretas para presidente do clube.
É o que mais combina com a história do Presidente. É o que mais combina com a história do Avaí que é, afinal de contas, “povo e gente”.

Por Adir Junior - sócio fundador da Conselharia Azurra

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